BHAGAVAD-GITA
COMENTADO POR MAHARISHI
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Os Vedas são o farol da eterna
sabedoria
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A onipresença do Ser
eterno, imanifestado e absoluto; Seu status como Aquilo, mesmo na
diversidade manifestada da criação; e a possibilidade da realização do Ser por
qualquer homem em termos de si mesmo – estas são as grandes verdades da
filosofia perene dos Vedas.
·
Quando o sofrimento cresce, a força invencível da
Natureza se movimenta para corrigir a visão do homem e estabelecer um modo de
vida que novamente realizará o elevado propósito de sua existência.
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Veda Vyasa, o sábio, registra o
crescimento da iniqüidade nas famílias daqueles que governavam o povo há
aproximadamente 5000 anos.
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Foi então que o Senhor Krishna veio
para relembrar ao homem os verdadeiros valores da vida e do viver.
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2000 anos depois o conhecimento foi
sendo esquecido.
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Sr Buda veio remediar esta situação.
Defendeu a meditação para purificar o campo do pensamento por meio do contato
direto com o Ser.
·
Mas
seus seguidores confundiram o efeito com
a causa. A ação correta chegou a ser entendida como um meio para alcançar o nirvana, quando a ação correta é na
realidade o RESULTADO deste estado de consciência em liberdade.
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Em 300 a 400 anos toda a verdadeira conexão entre os
ensinamentos básicos do Sr Buda havia desaparecido.
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Shankara veio restabelecer. Trouxe a
mensagem da plenitude pela experiência direta do Ser transcendental, no estado
de consciência do Ser, que é a base de todo o bem na vida.
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Novamente o ensinamento de Shankara
foi se perdendo. A devoção, que deveria ser uma decorrência natural da
consciência transcendental, permaneceu meramente no nível do pensar.
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A perfeição da apresentação de
Shankara foi aceita como base da sabedoria Védica e foi colocado no centro da
cultura indiana, mas a distorção também
acontece, com a perda da experiência direta da consciência
transcendental, ficando no nível do pensar, perdendo seu caráter universal e
ficando possível apenas para a ordem reclusa, além de baseada na renúncia e desapego que deveriam
ser decorrências naturais e não causa da vida em plenitude.
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Todas as seitas estabelecem que a
devoção transcendental é o último estágio da realização de um devoto, mas o
princípio de devoção de Shankara está baseado na consciência transcendental
desde o início (novamente não
causa, mas efeito)
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Swami Brahmananda Saraswati – Guru
Dev retoma o verdadeiro conhecimento de Shankara e traz a intenção de iluminar todo homem em toda
parte!
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Sempre haverá confusão e caos nos
campos relativos da vida e a mente do homem sempre cairá em erro e indecisão
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O Bhagavad Gita é um guia completo
para a vida prática – ele ensina como pensar e agir.
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Ele serve como uma petição do representante
da espécie humana (Arjuna) `a Encarnação do Divino (Krishna) – uma petição que
declara que, mesmo tentando ao máximo viver uma vida correta, o sofrimento
parece não nos abandonar. A exigência é: dê-nos uma vida livre de sofrimento.
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“Duryodhana, vendo seu próprio
exército e o exército oponente em formação, no campo de batalha, dá o sinal
para o combate. E Arjuna, o maior arqueiro do seu tempo, ponderado e
consciencioso, resolvido a opor-se ao mal, ainda que transbordando com uma onda
de amor, visualiza as conseqüências da guerra e atinge um estado de suspensão
entre os ditados de seu coração e de sua mente”.
CAPÍTULO I
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VERSO 1
Dhritarashtra disse:
Reunidos no campo do Dharma
Ó Sanjaya, no campo dos Kurus,
Ansiosos por combater,
O que fizeram meu povo e os Pandavas ¿
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O “dharma” é aquele poder invencível
da Natureza que sustenta a existência.
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Quando a vida evolui de um estado a
outro, o primeiro estado é dissolvido e o segundo é criado. Estas forças
criativas e destrutivas, funcionando em harmonia umas com as outras, mantêm a
vida e giram a roda da evolução.
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O dharma
mantém o equilíbrio entre elas.
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Um alto grau de concentração de
forças negativas, sem as forças positivas para equilibrá-las, termina em sofrimento
e em destruição da vida. A vida do indivíduo
sobre a influência de crescentes forças positivas entra num campo de
crescente felicidade...
·
... o aumento das forças negativas
termina em passividade ou extinção da vida, enquanto que o aumento de forças
positivas resulta na vida eterna.
·
Dhritarashtra , sendo um velho e
experiente chefe de família está ansioso para ouvir os detalhes dos acontecimentos.
·
Os
Kurus são membros da família Kuru, importante clã daquela época
·
O “campo dos kurus” é uma vasta
planície na vizinhança de Delhi.
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Dhritarashtra era o rei cego da
família Kuru. Seu irmão mais novo Pandu estava dirigindo os negócios do reino
para ele. Quando Pandu morreu, Dhritarashtra quis dar as rédeas do reino a
Yudhishtira, o mais velho dos cinco filhos de Pandu , Dharmaraj, a personificação da justiça, assim chamado
por causa de suas nobres qualidades.
·
Mas Duryodhana, o mais velho dos cem
maldosos filhos de Dhritarashtra,
assegurou para si o trono por meio de truques e traições e começou a tentar
destruir Yudhishtira e seus quatro irmãos
·
O Senhor Krishna, como cabeça do clã
Yadava, tentou reconciliar os primos, mas quando todas as tentativas falharam e
a traição de Duryodhana, continuava e aumentava, a guerra entre os Kauravas
(kurus) e Pandavas tornou-se inevitável.
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Isto levou reis e guerreiros do mundo
todo a tomarem partido de acordo com o nível de sua consciências, pelos justos
Pandavas ou pelos maldosos Kauravas.
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O bem e o mal do mundo inteiro formou
os dois exércitos. A principal missão do Sr Krishna, que era destruir o mal e
proteger o bem, foi simplificada.
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“Sanjaya” é o cocheiro do rei cego
Dhritarashtra a quem foi pedido que narrasse os detalhes da batalha, pois era
clarividente e clariaudiente e ao mesmo tempo imparcial.
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O
Bhagavad-Gita inteiro é a resposta de Sanjaya a Dhritarashtra.
VERSO 2
Sanjaya disse:
Então Duryodhana, o príncipe,
Vendo o exército dos Pandavas
Colocado em posição de combate,
Dirigiu-se a seu mestre e falou estas
palavras:
·
É um momento crucial, portanto é
natural que Duryodhana se dirija a seu mestre Dronacharya (que ensinou a arte
da guerra tanto aos Kauravas como aos Pandavas) para receber sua bênção e
força.
·
VERSO 3
Vê ó Mestre, este
grande exército,
dos filhos de Pandu, ordenado por teu sábio
discípulo, o
filho de Drupada.
·
O “ filho de Drupada”, Dhrishtadyumna
é o comandante-em-chefe do exército dos Pandavas
·
Duryodhana indica a seu mestre que o
exército inimigo é grande e poderoso, mas o seu exército conta com a graça do
mestre, enquanto o outro é apoiado apenas pelo discípulo (que por estar
disposto a lutar contra seu mestre sua moral se enfraquecerá). Duryodhana
também excita a mente do mestre contra o discípulo que organizou a frente
contra ele.
VERSO 4
Aqui encontram-se homens de valor,
Poderosos arqueiros, iguais a Bhima e
Arjuna na batalha – Yuyudhana, Virata
e
Drupada, o maharathi
·
Bhima é o segundo filho de Pandu, o
guerreiro mais poderoso do exército dos Pandavas e virtualmente em controle
deste apesar de Dhrishtadyumna ser o comandante-em-chefe.
·
Arjuna é o terceiro filho de Pandu
·
Maharati significa um grande
guerreiro, perito na ciência militar
·
Yuyudhana é o cocheiro do Senhor
Krishna, também chamado Satyaki
·
Virata é o príncipe em cujo
território os Pandavas viveram durante algum tempo às escondidas após perderem
um jogo de dados com Duryodhana.
VERSO 5
Dhrishtaketu, Chekitana e
Ovalente rei de Kashi,
Também Purujit, Kuntibhoja
E Shaibya, chefe entre os homens
VERSO 6
Yudhamanyu, o bravo
O valente Uttamauja;
Também o filho de Subhadra e os
filhos de Draupadi
Todos eles maharathis
Ao mencionar estes grandes guerreiros do exército oponente, Duryodhana
fortalece sua própria mente e desperta um profundo sentido de responsabilidade
na mente de seu mestre. No verso seguinte
fala dos heróis do seu próprio exército.
VERSO 7
Conhece bem, ó mais nobre dos
duplamente nascidos,
Aqueles que são proeminentes entre
nós.
Eu te falo dos líderes do meu
exército
Para que tu possas conhecê-los.
·
Duplamente nascidos (elogio,
geralmente usado para nascidos de família brahmin)
·
Ao relembrar os nomes de seus heróis,
Duryodhana passa em revista sua própria força e cria uma consciência de grande
poder.
VERSO 8
Tu mesmo, Bhisma, Karna
e Kripa, vitoriosos em batalha;
Ashvatthama e Vikarna e
também o filho de Somadatta.
VERSO 9
E existem muitos outros heróis,
Armados com armas variadas,
Todos habilidosos na arte guerreira,
Que tem arriscado sua vida por mim
VERSO 10
Ilimitado é nosso exército,
Comandado por Bhishma,
Enquanto que o exército deles,
Comandado por Bhima, é limitado
·
Tendo proclamado que ele é mais
poderoso que seu adversário, Duryodhana, no verso seguinte, pronuncia sua ordem
final de combate
VERSO 11
Portanto estacionados em vossas
Respectivas posições em todas as
frentes,
Apóiem apenas a Bishma, todos vós!
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Este verso ressalta a perspicácia de
Duryodhana. Ele sabe que a maioria dos guerreiros reunidos a seu lado não se
encontra lá principalmente por sua causa e sim pelo amor deles a Bishma.
VERSO 12
O idoso Kuru, o glorioso
antepassado(Bishma),
Deu um forte rugido qual um leão e
Tocou a sua concha,
Alegrando o coração de Duryodhana
·
O verso seguinte descreve como o
exército inteiro de Duryodhana, em alvoroço, juntou-se a Bishma para mostrar
sua prontidão para lutar
VERSO 13
Então, repentinamente, conchas,
trompas, timbales, tamborins e
Tambores soaram com estrondo, e
O som era tulmutuoso.
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“repentinemente” expressa a maneira
pela qual a Natureza funciona. A Natureza garante enorme flexibilidade para o
crescimento do bem ou do mal na atmosfera. Porém, quando a influência cresce
além dos limites elásticos, a Natureza não mais a sustentará; repentinamente o
ponto de ruptura é atingido. A explosão repentina do rugido de leão de Bishma e
o som tumultuoso produzido por todo o exército, simbolizaram o grande grito da
Natureza anunciando o ponto de ruptura do mal incomensurável que Duryodhana e
seus seguidores Acumularam para si mesmos.
VERSO 14
Então, sentados em uma grande
carruagem
Atrelada a cavalos brancos,
Madhava (Senhor Krishna) e o filho de
Pandu(Arjuna)
Também tocaram suas gloriosas conchas
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A palavra “então” mostra que não
estão tomando iniciativa da batalha, mas apenas respondendo às ações dos
Kauravas
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Este é o comportamento natural das
pessoas corretas – elas jamais são agressivas. Os Pandavas são desafiados e têm
de aceitar o convite como vier, mas eles não dão o primeiro sinal para a
batalha.
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Somente após ter recebido o sinal do
outro lado é que eles são obrigados a responder. E quando respondem, sua
resposta é mais poderosa porque conta com o poder do bem em sua base.
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A palavra “carruagem” tem uma conotação
metafísica especial. A “carruagem” é a estrutura fisiológica, o corpo. Os
sentidos são os cavalos aos quais o corpo-carruagem está atrelado.
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“atrelada a cavalos brancos”:
“branco” simboliza sattva ou pureza,
significando portanto que a carruagem estava sendo dirigida sob a influência do
bem.
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Quando o SER guia, o corpo se move
sob a influência de sattva. O Senhor Krishna simboliza o SER, e a carruagem que
Ele dirige tem que estar atrelada a cavalos brancos.
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“Madhava” significa Senhor da fortuna
e também matador do demônio Madhu
VERSO 15
HRISHIKESHA(Senhor Krishna) tocou
Panchajanya,
Dhananjaya(Arjuna) tocou Devadatta,
Bhima, de poderosas ações
Tocou sua grande concha Paundra.
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“Hrishikesha” pode significar Senhor dos sentidos e também
pessoa de cabelos longos. O cabelo longo está relacionado ao controle dos
sentidos. Então a palavra revela não apenas a aparência do Senhor Krishna no
campo de batalha, como também a força interior do cocheiro, que sendo o Senhor
dos sentidos, pode controlar qualquer situação.
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“Panchajanya” é a concha feita do
osso do demônio Panchajana
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“Devadatta” significa dado por Deus –
esta concha foi recebida por Arjuna de seu Pai divino, Indra.
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“Dhananjaya” significa ganhador de
riqueza, Arjuna.
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O sopro do Senhor Krishna foi absorvido
pelo elemento demônio na concha que produziu o som. Isto o deixou neutro na
batalha, como Ele havia prometido
·
O Senhor Krishna era reverenciado
tanto pelos Kauravas como pelos Pandavas. Quando estavam se preparando para a
guerra, tanto Arjuna como Duryodhana abordaram-nO pedindo ajuda ao mesmo tempo.
Já que o Senhor Krishna não podia dizer sim a nenhum deles na presença do
outro, disse: “Eu estarei de um lado e meu exército do outro, porém não
lutarei, ainda que meu exército o faça. Agora decidam vocês, quem gostaria de
me ter e quem gostaria de ter meu
exército”.
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A primeira escolha foi dada a
Duryodhana que preferiu o exercito e o Senhor Krisnha como havia prometido não
lutar, tornou-Se cocheiro de Arjuna e guiou o destino da batalha.
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Ao tocar o sinal para a guerra por
meio da concha do demônio indica que o Senhor Krishna criou uma poderosa força
demoníaca contra os diabólicos kauravas. A razão é que a força do bem é sempre
positiva.É sempre criativa e construtiva; não pode destruir. A destruição só pode
ser alcançada por meio de forças negativas. Por possuírem a força do bem, era
difícil para os Pandavas destruir os Kauravas. Então o Senhor Krishna, por meio
do som de Panchajanya, excitou as forças negativas em todos os presentes nos
dois exércitos. A excitação das forças negativas no exercito dos Pandavas deu a
este exército muito mais poder para destruir o mal, por causa do apoio do
grande poder do bem, enquanto que a excitação das forças negativas no exército
dos Kauravas apressou sua destgruição, levando a uma grande concentração do
elemento negativo sem o apoio de qualquer força positiva.
VERSO 16
Príncipe Yudhishtira, o filho de
kunti,
Tocou sua concha Anantavijaya;
Nakula e Sahadeva tocaram
Sughosha e Manipushpaka
·
“Kunti é a mãe dos cinco Pandavas, os
filhos de Pandu.
·
“Yudhishtira” é o mais velho dos
cinco Pandavas.
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“Nakula” é o quarto, habilidoso na
arte de treinar cavalos.
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“Sahadeva” é o quinto e mais novo,
habilidoso na criação de gado
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“Anantavijaya” significa vitória
eterna
·
“Sughosha” significa de tom doce
·
“Yudhishtira” significa ornado de
gemas.
VERSO 17
O Rei de Kashi, o grande arqueiro,
E Shikhandi, o maharathi,
Dhrishtadyumna e Virata e
Satyaki o não-subjugado
VERSO 18
Drupada, assim como os filhos de
Draupadi,
E o filho de Subhadra de poderosos
braços
Ó Senhor da Terra, todos tocaram
Suas diferentes conchas.
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“Ó Senhor da Terra”: Sanjaya se
dirige a Dhritarashtra, o rei.
VERSO 19
Aquele troar tumultuoso,
Reverberando através da Terra e do
céu,
Lacerou os corações dos homens de
Dhritarashtra.
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Os Pandavas anunciaram sua prontidão
para a guerra por meio de tocar as conchas, que estremeceram o ar e vibraram
através de tudo na Terra e no céu. Criou-se uma agitação no universo.
VERSO 20
Então, vendo os filhos de Dhritarashtra
Alinhados em formação de combate
Como mísseis prontos para voar,
O filho de Pandu (Arjuna), cujo
estandarte
Portava a imagem de Hanuman, ergueu
seu arco.
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“os filhos de Dhritarashtra alinhados em formação de
combate” representa o mal preparado para aniquilar o bem.
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Quando Arjuna ergueu seu arco ele
expressou a prontidão do bem em resistir ao mal e restaurar a harmonia na
Terra.
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Hanuman simboliza devoção e serviço
ao Senhor supremo.
VERSO 21
Então, ó Senhor da Terra, ele falou
estas
Palavras a Hrishikesha (Senhor
Krishna):
Alinhe minha carruagem entre os dois
exércitos,
Ó Achyuta.
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O Senhor Krishna simboliza o Ser
absoluto, que é o campo do dharma e
que ao permanecer entre as forças positivas e negativas na Natureza, as
equilibra. Apesar de permanecer neutro o Ser sempre apóia o bem.
VERSO 22
Para que eu possa observar aqueles
Que se encontram aqui ansiosos pela
batalha,
E possa saber com quem devo lutar
neste
Árduo trabalho de guerra
·
A habilidade na batalha está
primeiramente em localizar os pontos estratégicos da linha do inimigo.
·
“ansiosos pela batalha”, mostra que
Arjuna queria escolher cuidadosamente
apenas aqueles que estavam ansiosos pela batalha
VERSO 23
Deixai-me ver aqueles que estão
reunidos
Aqui prontos para lutar,
ansiosos por conseguir na batalha
aquilo
Que é caro ao mal-intencionado filho
de Dhritarashtra.
·
Aqui, Sanjaya, o cocheiro do rei cego
Dhritarashtra relata a insinuação de Arjuna de que Dhritarashtra está sendo
levado à vergonha por causa das ações de seus filhos. Isto mostra que como pai
de seus mal intencionados filhos, Dhritarashtra é em ultima instância
responsável pela ameaçadora destruição de toda a comunidade.
VERSO 24
Sanjaya disse: ´
Ó Bharata , assim invocado por
Gudakesha (Arjuna),
Hrishikesha (Senhor Krishna)
Havendo colocado a magnífica
carruagem
Entre os dois exércitos
·
Gudakesha – aquele que tem domínio
sobre o sono, sobre a letargia da mente.
VERSO 25
Ante Bishma e Drona,
E todos os soberanos da Terra, disse:
Partha (Arjuna)! Observe estes
Kurus reunidos
·
O Senhor Krishna viu que Arjuna
estava furioso. A ira é uma grande inimiga, ela reduz a força do homem e então
ele faz algo para restaurar em Arjuna sua condição normal.
·
“Partha (Arjuna)! Observe estes Kurus
reunidos”! Este é o primeiro conselho para Arjuna no campo de batalha.
·
Ao se dirigir a Arjuna como Partha,
ele o lembra de que é filho de Pritha, e Arjuna se lembra de sua mãe e cria uma
cálida onda de amor em seu coração
VERSO 26
O filho de Pritha (Arjuna) viu ali
Diante dele, tios e avós,
professores,
Tios maternos, irmãos, filhos e
netos,
E também muitos amigos.
·
A visão de Arjuna foi colorida pelo
amor
VERSO 27
Também sogros e amantes do bem,
Em ambos os exércitos
Então aquele filho de KUNTI (Arjuna)
Vendo todos estes parentes assim
presentes,
·
Arjuna se levanta para observar seus
adversários, mas não consegue ver adversários, em vez disso vê seus entes
queridos
VERSO 28
Possuido por extrema compaixão,
Falou assim em sua dor:
Vendo estes meus parentes Ó Krishna,
Reunidos, ansiosos por combater,
·
O coração está pleno de sentimento,
saturado com amor, a mente está completamente alerta, cheia do sentido de
justiça e do chamado do dever
VERSO 29
Meus membros falham e minha boca está
seca,
Meu corpo treme e meu cabelo está
arrepiado.
·
Na situação em que se encontra,
indeciso entre o coração e a mente, não está em posição de empreender a
atividade. Se segue o apelo do bem,
deve se rebelar contra o amor e matar
todos os seus entes queridos, reunidos para a batalha. Se seguir o amor terá
que sacrificar a causa do bem e ceder ao mal.
VERSO 30
Gandiva (o arco) escorrega de minha
mão e
Mesmo minha pele arde toda;
Sou incapaz de ficar de pé e
Minha mente parece girar.
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A força com q Arjuna segurava Gandiva
é em resposta à chamada do bem. Sua mente estava completamente dominada pelo
chamado do dever . Mas, agora, após a onda de amor criada pelo Senhor Krishna,
o poder do amor ganha o mesmo poder de sua mente. Nunca antes o arco escorregou
da mão de Arjuna. A onda de amor fez com que isto acontecesse.
·
“A mente parece girar” : a mente
alerta faz força para mudar o curso do coração e esta tentativa de reverter o
fluxo da vida, produz a impressão de que sua mente está girando.
VERSO 31
E vejo presságios adversos ó keshava
(Senhor Krishna), assim como não vejo
bem
Em matar meus parentes na batalha.
·
“Matar meus parentes” Matar vem da mente dedicada à verdade e ao
bem. “Meus parentes”é o grito do coração.
·
Arjuna vê que o conforto espiritual
não está em matar seus parentes. Mas esta é a ação que o aguarda
VERSO 32
Não desejo vitória, ó Krishna,
Nem um reino, nem prazeres.
De que nos servirá um reino, ou
prazeres,
Ou mesmo a vida ó Govinda¿
VERSO 33
Aqueles pelos quais desejamos
Um reino, prazeres e confortos,
Estão aqui no campo de batalha,
Havendo renunciado às suas vidas e
riquezas.
·
Assim é a consciência desenvolvida,
desprovida de qualquer pensamento de interesse próprio. Este é o status de
verdadeiros grandes homens – vivendo, eles vivem para os outros; morrendo, eles
morrem para os outros.
·
Se o caráter de Arjuna apresenta tal
grandeza de coração e mente, por que veio ele ao campo de batalha preparado
para lutar¿
·
Arjuna está decidido a resistir ao
mal; ele não está interessado em matar as pessoas. Ele quer destruir o mal sem
destruir o autor do mal
VERSO 34
Professores, tios, filhos e também
Avós, tios maternos, sogros, netos,
Cunhados e outros parentes.
·
O campo do amor é um campo inocente
da vida. Os problemas surgem quando o apego ou o desapego obscurecem o amor
puro.
VERSO 35
Ó Madhusudana (Senhor Krishna),
Estes eu não desejo matar,
Mesmo que eu próprio seja morto,
Nem pela soberania dos três mundos
Muito menos por este mundo.
·
Arjuna sugere ao Senhor Krishna que,
como matador do demônio, Ele pode se levantar para matar os Kauravas se Ele achar
que são demoníacos e qto a ele próprio ele considera que são parentes queridos
e que fará o necessário para protegê-los
VERSO 36
Que felicidade poderíamos ter em
matar
os filhos de Dhritarashtra, ó
Janardana (Senhor Krishna)¿
Somente pecado cairia sobre nós
Ao matar estes agressores.
·
Este verso apresenta uma mudança na
visão de Arjuna: os parentes voltaram a ser os filhos de Dhritarashtra, estes
agressores. olhando do ponto de vista do coração, Arjuna não chegou a conclusão
alguma. Decide considerá-lo então do ponto de vista da mente
·
À medida em que ele se entrega à
razão, o chamado do dever começa a ganhar terreno. Com isto sua visão muda.
VERSO 37
Portanto, não seria correto matarmos
os
filhos de Dhritarashtra, nossos
próprios parentes.
Como poderíamos ser felizes após
Matarmos nossa própria gente, ó
Madhava
·
Arjuna vai mais além. Anteriormente,
era apenas seu desejo não matar, mas agora ele considera que não é correto para
ele engajar-se em matar.
VERSO 38
Ainda que com suas mentes nubladas
pela cobiça,
Eles não vêem erro em trazer
destruição à família,
Nem pecado na traição aos amigos,
VERSO 39
Como poderíamos não saber nos
Afastar deste pecado,
Nós que claramente vemos o erro em
trazer
Destruição à família, ó Janardana
·
Arjuna não consegue ver a saída
correta para este pecado de matar. Ele se volta ao Senhor, para receber a luz.
·
Arjuna não consegue entender porque
sua decisão de se abster da batalha não produz resultado algum e ele continua
sendo levado à batalha. Não é por estar em um estado de confusão, mas porque
nenhuma clareza intelectual pode fornecer a qualquer um a compreensão do
complexo funcionamento da Natureza diversificada.
·
Arjuna, apesar de sua consciência
pura, ainda não penetrou o Ser absoluto que é o campo da Lei Cósmica (Lei
Natural). É por isso que não consegue ver que ele está vivendo em um ambiente
saturado de má influência, no qual não é possível a sobrevivência da virtude
por muito tempo. Arjuna está tentando abster-se de lutar em consideração aos
dharmas de família e de casta; ele não está consciente do estado absoluto do
dharma, cujo poder o está levando a lutar. Conseqüentemente ele não vê porque é
incapaz de agir de acordo com seus sentimentos.
VERSO 40
Os antiqüíssimos dharmas de família
Se perdem na destruição de uma
família.
Perdido seu dharma, adharma se
apodera da família inteira
·
Dharmas significa os diferentes
poderes da Natureza sustentando as diferentes avenidas do caminho da evolução.
·
Adharma significa ausência de dharma.
Qdo adharma prevalece, o grande poder da Natureza que mantém o equilíbrio entre
as forças positivas e negativas, é perdido e o processo de evolução é assim
obstruído.
·
Arjuna, como grande homem de sua
época, antes de se lançar em um empreendimento, mede sua influência nas
gerações subseqüentes. A preocupação principal de Arjuna é a preservação do
caminho da evolução.
VERSO 41
Quando adharma prevalece, ó Krishna,
As mulheres da família se tornam
corruptas,
E com a corrupção das mulheres, ó
Varhneya,
Surge a mistura das castas.
VERSO 42
Esta mistura só leva ao inferno,
Tanto para a família como para seus
destruidores.
Seus antepassados caem da mesma
forma,
Quando cessam as oferendas a
Pindodaka
·
Pindodaka - a execução de rituais e
cerimônias em nome dos pais e avós que partiram, conecta pais e filhos e
traz paz
e satisfação aos antepassados e bênçãos fluem .
VERSO 43
Por meio dos erros cometidos pelos
destruidores
Da família ao causar a mistura das
castas,
Os dharmas imemoriais de casta e
Família tornam-se extintos
·
No verso 40 Arjuna estava pensando no
dharma da família. Neste verso ele considera o dharma da casta.
VERSO 44
Homens cujos dharmas de família
decaíram,
Como ouvimos dizer, ó janardana
(Senhor Krishna)
Vivem necessariamente no inferno.
·
Se as tradições familiares são
quebradas, as pessoas que vivem juntas não sabem viver de maneira que seu modo
de vida naturalmente ajude cada um deles a evoluir.
·
A preocupação de Arjuna com a
destruição dos dharmas indica que ele está analisando toda a situação do ponto
de vista do funcionamento da Natureza.
VERSO 45
Oh! Estamos decididos a cometer um
grande pecado
Por estarmos preparados para matar
nossos parentes
Por cobiça, pelos prazeres de um
reino.
VERSO 46
Seria melhor para mim se os
Filhos de Dhritarashtra, armas nas mãos,
Me matassem em combate sem resistir e
desarmado.
Arjuna considera melhor morrer que
cometer pecado.
VERSO 47
Sanjaya disse:
Havendo assim falado no momento da
batalha,
Abandonando o arco e a flecha,
Arjuna sentou-se no banco da
carruagem,
Sua mente dominada pela tristeza.
CAPÍTULO II
VERSO 1
Sanjaya disse:
A ele, assim sobrepujado pela
compaixão,
Cheio de tristeza, seus olhos
afligidos
E repletos de lágrimas,
Madhusudana (Senhor Krishna) falou
estas palavras:
·
“Madhusudana” , o matador do demônio
Madhu. O uso desta palavra indica que uma poderosa força está surgindo para por
fim ao paralizante estado de suspensão de Arjuna.
·
O coração de Arjuna estava cheio de
compaixão e sua mente cheia de tristeza.
·
Esta condição de paralização é de
valia pois oferece uma ótima base para a inteligência divina
VERSO 2
O ABENÇOADO Senhor disse:
De onde surgiu esta mácula Arjuna,
Alheia a homens honrados, nesta hora
inoportuna,
Causando desgraça e contrária aos
céus¿
·
Os problemas não são resolvidos ao
nível dos problemas. Analisar um
problema para encontrar a solução é como tentar restaurar o frescor de uma
folha tratando a própria folha, quando a solução está em regar a raiz.
·
Todos os problemas da vida surgem de
alguma fraqueza da mente. Toda fraqueza da mente se deve à ignorância da mente
quanto à sua própria natureza essencial, que é universal e fonte de energia e
inteligência infinitas. Esta ignorância do nosso próprio ser é a base de todos
os problemas, sofrimentos e imperfeições na vida.
·
Isto bateu forte no coração e mente
de Arjuna
VERSO 3
Partha, não te entregues à covardia.
Não é digno de ti
Livra-te desta vil fraqueza de
coração.
Levanta-te ó arrasador de inimigos!
·
O Senhor deseja que Arjuna pare
imediatamente de pensar de uma maneira que não o levará a lugar algum.
·
Pedindo a Arjuna que se livre da
“fraqueza do coração” o Senhor a
qualifica de “vil”. Com isto ele quer encorajá-lo.
·
O Senhor Krishna deseja transmitir a
Arjuna que quando o amor cresce no coração do homem, sua perspectiva torna-se
mais universal e que ele deveria se tornar mais forte e dinâmico, mas que em
seu caso, isso nao ocorreu. Arjuna não adquiriu uma consciência universal.
VERSO 4
Arjuna disse:
Como posso enfrentar Bishma e Drona
Com flechas no campo de batalha, ó
Madhusudana¿
Eles são dignos de reverência,
Ó destruidor de inimigos
·
Vós sois o destruidor de demônios;
como podeis me pedir para destruir estes nobres anciãos, aqueles que são dignos
de reverência¿
VERSO 5
Certamente é melhor viver até mesmo
de esmolas neste mundo
Do que assassinar estes mestres de
mente nobre;
Pois apesar de estarem desejosos de
ganhos,
Havendo-os matado, somente
desfrutarei neste mundo
Prazeres manchados de sangue
·
Arjuna tem consciência das tragédias
possíveis
VERSO 6
Não sabemos o que é melhor para nós:
Se deveríamos conquistá-los ou eles
nos conquistar
Os filhos de Dhritarashtra estão face
a face conosco.
Se nós os matássemos, não deveríamos
desejar viver;
·
Ele pensa sobre as conseqüências da
vitória e da derrota e não encontra justificativa nem mesmo para uma vitória de
seu lado, se esta o privar de seus entes queridos
·
Então ele se vira para o Senhor, em
busca de orientação divina
VERSO 7
Minha natureza, atingida pela mácula
da fraqueza,
Minha mente confusa sobre o dharma,
eu Vos rogo,
Dizei-me decisivamente o que é bom
para mim.
Eu sou Vosso discípulo; ensinai-me,
Pois eu me refugiei em Vós.
·
Ele cai aos pés do Senhor
·
Por um lado ele tem o seu dharma
familiar(o dever do chefe de família) e por outro está seu dharma de casta (o
dever de um kshatriya, protetor da sociedade, exigindo que mate os agressores.
·
Por si só ele não é capaz de decidir
qual dharma seguir e considera isto como sua fraqueza.
·
Na verdade as circunstâncias é que
são responsáveis
VERSO 8
Na verdade não vejo o que possa dissipar
A dor que murcha meus sentidos,
Ainda que deva obter um próspero e
incomparável reino na terra
E até mesmo supremacia sobre os
deuses
·
“murcha meus sentidos” por causa do
estado de suspensão de Arjuna, a coordenação entre mente e sentidos se perde.
Uma planta se torna murcha porque não recebe nutrição da raiz e não há forma de
nutrir a planta de fora. Sem coordenação com a mente os sentidos não têm como
permanecer alertas e não podem desfrutar nem mesmo dos maiores prazeres da
terra.
·
Se a
entrega descrita
no verso anterior (Eu sou Vosso
discípulo; ensinai-me) tivesse sido completa, Arjuna já teria silenciado sobre
a sua dor, desde aquele momento.
·
O estudo deste verso traz à luz um
princípio fundamental da vida espiritual. O verdadeiro estado de entrega. O
verdadeiro estado de entrega não deixa a pessoa sofrer; ela deixa de lado todas
as dificuldades e o alívio a leva ao silêncio.
VERSO 9
Sanjaya disse:
Gudakesha, opressor do inimigo,
Havendo assim falado a Hrishikesha,
Disse a Govinda (Senhor Krishna):
“Eu não lutarei” e caiu em silêncio.
·
Justifica-se Arjuna dizer que não
lutará porque já se entregou. Agora seu coração, mente e corpo pertencem ao
Senhor Krishna, portanto ele não pode lutar ou fazer coisa alguma, a não ser
que receba ordens.
VERSO 10
A ele ó Bharat (Dhritarashtra)
Que lamentava-se entre os dois
exércitos,
Hrishikesha sorrindo, falou as
seguintes palavras:
·
Tirar Arjuna de seu estado de
silêncio e exitação, não é difícil para aquele que é o senhor dos sentidos
VERSO 11
O abençoado Senhor disse:
Tu te afliges por aqueles para os
quais
Não deveria haver aflição,
Porém falas como os sábios.
Homens sábios não se afligem
Nem pelos mortos nem pelos vivos.
Verso 12
Jamais houve um tempo em que Eu não
existisse.
Nem jamais haverá um tempo em que
Todos nós deixaremos de existir.
·
O Senhor apresenta a Arjuna a
natureza permanente do homem interior
VERSO 13
Assim como o residente neste corpo
passa
Pela infância, juventude e velhice,
Da mesma forma ele também passa para
outro corpo
Isto não confunde os sábios
·
Para um homem que sabe disto não é
possível sentir grande preocupação com a morte do corpo, mas mesmo com este
conhecimento, ele sente calor e frio, prazer e dor. O próximo verso explica
como enfrentar essa situação.
VERSO 14
Os contatos (dos sentidos) com seus
objetos, ó filho de Kunti,
Dão origem à (experiência de) frio e
calor, prazer e dor.
Transientes eles vem e vão.
Lida com eles pacientemente ó
Bharata!
·
Aqui o Senhor quer mostrar a Arjuna
que as coisas que não são de natureza permanente não devem pesar muito “leva
com calma pois as coisas irão naturalmente, assim como vieram. Eleva-te à
compreensão de que a Realidade permanente da existência continuará a existir,
enquanto que aquilo que for temporário, continuará mudando.
VERSO 15
De fato aquele homem a quem estes
(contatos ) não perturbam,
Que é equânime no prazer e na dor,
firme,
Está pronto para a imortalidade, ó
grande homem!
·
O homem estabelecido na compreensão
da abundância ilimitada da existência absoluta, está naturalmente livre da
influência de ordem relativa. Isto que lhe dá o status de vida imortal.
·
Mas, tentar criar uma disposição de
equanimidade no prazer e na dor, na perda e no ganho, com base na compreensão,
é hipocrisia (não se exige que uma criança se lembre constantemente que sua mãe
é sua mãe. Ela sabe disto).
VERSO 16
O irreal não tem existência;
O real nunca deixa de existir.
A verdade final sobre ambos foi assim
Percebida pelos conhecedores da
Realidade suprema.
·
A Realidade suprema foi definida como
aquilo que nunca muda. Em contraposição a ela está o irreal, que está em eterna
mudança; pois obviamente aquilo que sempre muda não tem substância, existência
real.
·
Aqui neste verso, o Senhor faz Arjuna
ver a Realidade
·
que está na base da multiplicidade da
criação.
VERSO 17
Saiba que Aquilo é na verdade
indestrutível,
E pelo qual tudo isto é permeado.
Ninguém pode causar a destruição
Deste Ser imutável.
·
O Ser onipresente e o espírito dentro
do homem não são duas entidades diferentes. Parecem diferentes por causa dos
diferentes sistema nervosos individuais. Assim como o mesmo sol parece
diferente quando brilha em meios
diferentes como a água e o óleo. Quando o sistema nervoso é puro, o Ser
se reflete mais e o espírito é mais poderoso, a mente é mais eficaz.
·
A conclusão é que, a partir de ambos
pontos de vista – o da permanência do Ser e o do nível impermanente da vida
– o dever de Arjuna é o de não se
preocupar com nada, e sim levantar-se e fazer o que tem que fazer.
VERSO 18
Sabe-se que estes corpos terão um fim
O residente no corpo é eterno,
Imperecível, infinito.
Portanto ó Bharata, luta!
·
Não há motivo para se lamentar a
morte do corpo e menos ainda lamentá-la antecipadamente.
·
Jiva é a existência cósmica
individualizada. É o espírito individual dentro do corpo. Removidas suas
limitações, jiva é Atman, o Ser transcendente.
·
Quando a individualidade de jiva e a
universalidade de Atman são unidos e encontrados juntos no mesmo nível de vida,
então temos Brahman, a vida cósmica toda abrangente.
VERSO 19
Aquele que o considera como sendo o
matador,
E aquele que o toma como vítima,
Ambos falham em perceber a verdade.
Ele não mata, nem é morto.
·
Todos os atributos pertencem ao campo
manifestado da vida; portanto o espírito não pode ser considerado nem como
sujeito nem como objeto de qualquer ação.
·
A atividade que o homem ignorante
assume como sendo sua – da personalidade subjetiva que ele se considera – não
pertence a seu verdadeiro ser, pois este, em sua natureza essencial, está além
da atividade. O Ser, em sua verdadeira natureza é apenas a testemunha
silenciosa de tudo.
VERSO 20
Ele nunca nasce, nem jamais morre;
Nem por já ter existido, deixa ele de
existir.
Não-nascido, eterno, duradouro,
antigo,
Ele não morre quando o corpo é morto.
·
A vida eterna é imutável permanece
através das fases sempre mutáveis dos corpos que assume.
VERSO 21
Aquele que sabe que ele é indestrutível,
Eterno, não-nascido, imortal,
Como pode aquele homem ó Partha,
Matar ou fazer com que alguém mate¿
VERSO 22
Assim como um homem que dispensa as
vestimentas gastas adota outras novas,
Também o residente no corpo,
dispensando os corpos gastos,
Adota outros novos
VERSO 23
As armas não podem penetrá-lo,
Nem pode o fofo queimá-lo;
A água não pode molhá-lo,
Nem pode o vento ressecá-lo.
·
Havia algo profundamente enraizado na
mente de Arjuna: o sentimento de que suas flechas afiadas iriam ferir e mutilar
os corpos daqueles que ele amava, suas flechas iriam matá-los. É por isso que o
Senhor começa fazendo-o entender que a existência deles não seria realmente
destruída por suas armas. A Realidade é uma só, onipresente, desprovida de
qualquer dualidade, sem componentes – é por isto que Ela não pode ser morta. O
corpo é composto de diferentes partes, por isso pode ser morto.
·
Para tornar esta idéia ainda mais
clara, o Senhor explica que até mesmo os elementos ar, água e fogo, que são
muito mais refinados e poderosos do que as armas de Arjuna, são incapazes de
perturbar o ser.
VERSO 24
Ele é impenetrável; ele não pode ser
queimado;
Não pode ser molhado, nem pode ser
ressecado.
Ele é eterno, todo permanente,
estável,
Imutável, sempre o mesmo.
VERSO 25
Ele é considerado imanifesto,
Inconcebível, imutável;
Portanto conhecendo-o assim,
Não deves afligir-te.
·
Arjuna teve que receber esta
concepção intelectual clara da Realidade para estar preparado para o estado de
iluminação. Ele precisa primeiro entender a concepção intelectual para depois
ser guiado à experiência, passo a passo
VERSO 26
Mesmo que penses que ele está
constantemente nascendo
E constantemente morrendo,
Ainda assim, ó de braços poderosos,
Não deves afligir-te desta forma
·
Mesmo que Arjuna não se convença da
imortalidade do residente no corpo, isto não justifica sua aflição
·
....esta é também a glória da mente
do mestre, que pode deduzir a mesma conclusão a partir de linhas de raciocínio
diametralmente opostas. Se Arjuna não se convence com uma linha de raciocínio,
o Senhor não o deixa à própria sorte, mas tenta convencê-lo por meio de outra.
VERSO 27
Certa, na verdade, é a morte para os
que nascem,
E certo é o nascimento para os que
morrem;
Portanto não deves afligir-te com o
inevitável.
VERSO 28
As criaturas são imanifestas no
começo,
Manifestas no estado intermediário,
E novamente imanifestas no fim, ó
Bharata!
O que há de doloroso nisto¿
·
De acordo com as descobertas da
física moderna, toda matéria tem apenas existência fenomenal e, na realidade, é
energia sem forma. Tanto em seu estado anterior, como em sua forma atual
evidente, a matéria nada mais é do que energia pura, e, com a dissolução de sua
forma atual, continuará sendo a mesma energia.
VERSO 29
Um o vê como algo surpreendente;
Da mesma maneira, outro fala dele
como algo surpreendente;
E ainda outro ouve falar dele como
algo surpreendente.
E mesmo ao ver, falar e ouvir, alguns
não o entendem
·
Uma vez que o ser é de natureza
imanifestada, e porque a vida do homem é sempre no campo do manifestado, não é
de surpreender que a Realidade eterna é estranha para muitos pois todos A olham
a partir de seu próprio nível de consciência.
VERSO 30
Aquele que reside no corpo de todos
É eterno e invulnerável, ó Bharata;
Portanto não deves afligir-te por
Nenhuma criatura, seja quem for.
VERSO 31
Mesmo que consideres teu próprio
dharma,
Não deves exitar,
Pois não há nada melhor para um
kshatriya
Do que uma batalha de acordo com o
dharma.
·
O propósito de Senhor é convencer
Arjuna que, do ponto de vista do seu dever, a única saída que vale a pena é de
se desvencilhar de sua relutância em
lutar e enfrentar a ação para a qual nasceu.
VERSO 32
Felizes são os kshatriyas, ó Partha,
Que encontram sem buscar, uma batalha
assim –
Uma porta aberta para o céu.
·
Quando um kshatriya tem a
oportunidade da batalha, ele se sente feliz, porque ele ganha quer vença ou
perca: vitorioso, ele alcança a glória na Terra; morrendo na batalha, ganha o
céu.
VERSO 33
Agora, caso não te envolvas nesta
batalha,
Que está de acordo com o dharma,
Então, deixando de lado teu próprio
dharma e
Tua reputação, incorrerás em pecado.
·
“Pecado” é aquilo através do qual o
homem se afasta do caminho da evolução. Ele leva ao sofrimento
VERSO 34
Além do mais, os homens sempre
Falarão de tua desgraça;
E para um homem honrado,
Má reputação é pior que a morte.
VERSO 35
Os grandes guerreiros pensarão que
Fugiste da batalha por medo,
E aqueles que te estimavam te
menosprezarão.
VERSO 36
Teus inimigos falarão muito mal de
ti,
E zombarão de tua força.
Que dor maior do que esta!
VERSO 37
Se te matarem, alcançarás o céu;
Vitorioso, desfrutarás a Terra.
Portanto ó filho de Kunti,
levanta-te,
Decidido a lutar!
VERSO 38
Havendo adquirido equanimidade no
prazer e na dor,
No ganho e na perda, na vitória e na
derrota,
Então sai em campo para lutar.
Assim não cometerás pecado.
·
...não estou te pedindo para que
lutes com vistas a esta ou aquela perda ou ganho, mas porque ao lutar não
cometerás pecado. Quando decidimos a validade de uma ação, esta não deve ser
com base na perda ou ganho, mas se sua natureza será ou não pecaminosa.
VERSO 39
Isto que te foi exposto, é a
compreensão em termos de Sankhya;
Ouve-o agora em termos de yoga.
Com teu intelecto estabelecido por
meio desta, ó Partha,
Tu te libertarás da influência
escravizante da ação.
·
Yoga, o caminho da União, é um meio
direto de experimentar a natureza essencial da Realidade. Esta Realidade é
descrita e compreendida intelectualmente por um sistema que o Senhor chama
Sankhya, exposto nos versos anteriores.
·
O Sankhya do Bhagavad Gita apresenta
os princípios de todos os seis sistemas de filosofia indiana, enquanto que a
Yoga do Bhagavad Gita apresenta seus aspectos práticos.
·
Agora o Senhor Krishna quer
apresentar a Arjuna a prática por intermédio da qual seu intelecto se tornará estabelecido na Realidade.
·
O Senhor deixa claro que a mente,
purificada ou aquietada pela sabedoria de Sankhya, torna-se estabelecida no Ser
por .meio da prática da Yoga.
·
Nenhuma prática é envolvida na
obtenção da compreensão da vida por intermédio de Sankhya. Se se deseja
praticar, deve-se procurar a Yoga. O uso das palavras “intelecto estabelecido”
indica que é o intelecto que realiza Yoga, e não a mente divagante. A sugestão
é que a mente deve ser elevada ao estado do intelecto por meio da sabedoria de
Sankhya e então levada à yoga para tornar-se estabelecida no Ser. Isto
apresenta Sankhya e Yoga como complementares.
VERSO 40
Nesta(Yoga) nenhum esforço se perde e
Não existe nenhum obstáculo.
Até mesmo um pouco deste dharma
Liberta de grande medo
·
‘obstáculo’ = qualquer efeito adverso
·
“dharma” = caminho da evolução
·
No caminho da liberdade eterna nenhum esforço se perde.
Qualquer esforço neste caminho resulta na meta; o processo uma vez começado não
pode parar até chegar à sua meta. Isto é assim, em primeiro lugar porque o
fluir da mente em direção a este estado é natural pois é um estado de
bem-aventurança absoluta, e a mente está sempre buscando maior
felicidade....como a água corre ladeira abaixo de forma natural, a mente flui
naturalmente na direção da bem-aventurança.
·
Em segundo lugar “nenhum esforço se
perde” porque, para que a mente fique plena de bem-aventurança, não é
necessário esforço algum. Se fosse necessário algum esforço, então a questão do
esforço se perder surgiria. Qdo uma ação é desempenhada, um estágio do processo
leva ao outro, que por sua vez leva ao estágio seguinte.
·
O próprio inicio do processo é sua
realização pois é o movimento da mente em direção à bem-aventurança.
VERSO 41
Nesta Yoga, ó alegria dos Kurus,
O intelecto resoluto mantém seu
enfoque
Mas o intelecto dos irresolutos é
muito
Ramificado e infinitamente
diversificado.
VERSO 42
Os ignorantes, que estão absorvidos
Nas palavras do Veda, ó Partha,
E declaram que não há nada mais,
Falam palavras floreadas
·
a vida, os Vedas defendem um
caminho de pensamento e ação disciplinados. A disciplina da ação é
tratada nos capítulos chamados coletivamente de Karma Kanda enquanto que a disciplina
da mente é exposta nos capítulos chamados Upasana Kanda
·
o propósito do Karma Kanda Védico é
estabelecer um código de ação que trará sucesso e prosperidade nesta vida e no
futuro. Ele trata dos ritos e cerimônias necessários para estabelecer
coordenação entre os diferentes aspectos da vida individual:coordenação entre o
homem e outras criaturas, entre o homem e as diferentes forças na Natureza,
entre o homem e os anjos e entre o homem e Deus no céu.